O
IGNORANTE RACIONAL
"O
Eleitor médio brasileiro olha primeiramente para sua renda e emprego antes de
tomar a decisão de voto. A situação
econômica e política do país ficam em segundo plano.
Marcus André Melo - Cientista político
Nas
eleições de 2014 o cenário do Brasil era:
Juros altos, inflação lá em cima, dívida
pública, balança comercial desfavorável, os principais indicadores pioraram em 2014, e muitos
eleitores parecem alheios à deterioração do cenário econômico.
A
explicação, segundo o cientista
político Marcus André Melo, professor da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE) e doutor pelo Massachusetts Institute of
Technology (MIT), é que as eleições são definidas, em grande parte, pelo
chamado "ignorante racional". "É um
eleitor para quem a palavra macroeconomia não faz o menor sentido",
explica. "Ele faz um cálculo racional de sua situação salarial e
profissional. E, dentro de suas limitações, seu voto é coerente", afirma.
Segundo
Melo, a deterioração econômica só afeta as intenções de voto quando o
desemprego aumenta. Isso ocorre, segundo o cientista político, porque falta ao
eleitor a noção do chamado 'cálculo intertemporal'. Como o eleitorado médio não
conhece profundamente como funcionam as políticas públicas, tampouco pode
julgar sua sustentabilidade através do tempo. "A única forma de adquirir
essa consciência de tempo é por meio da educação. Essa também é a única maneira
de permitir que os eleitores confrontem as informações passadas pelos
candidatos na propaganda eleitoral", afirma.
Ou
seja, eles não se preocupam com o que acontecerá se um governo incompetente,
corrupto entrar no poder, pois não querem saber se a economia está deteriorando
e os principais indicadores mostrando um futuro incerto.
Vamos
ler como os especialistas discorrem sobre esse tema:
Mancur Olson,
celebrado professor de Economia na Universidade de Maryland e autor
de numerosos trabalhos,“ a ignorância
racional dos eleitores – e, portanto das maiorias – conduz à noção de que
essas maiorias, por vezes, não estão bens conscientes de quais são os seus
verdadeiros interesses. Podem por isso ser vítimas de espoliações de que não se
apercebem. Podem ficar convencidas, através de argumentos superficialmente
plausíveis, de que uma determinada política corresponde ao interesse da
maioria, ou mesmo da sociedade no seu conjunto, quando na realidade ela só
serve alguns interesses especiais. Quando temos ocasião de considerar os
incentivos que animam determinados grupos de interesses especiais é que nos
apercebemos de que este problema é muito sério.”
Douglass North,
professor de Economia na Universidade de Washington e Prémio Nobel de Economia,
salienta a importância do mesmo conceito entre os principais condicionantes da
Economia:
“A
ignorância racional do eleitor não é só um “chavão” da literatura relativa a
opções públicas. Não só o eleitor pode não adquirir nunca a informação que lhe
permita ficar, ainda que só vagamente, esclarecido sobre a miríade de propostas
que poderão afetar o seu bem-estar, como também não haverá forma de o mesmo
eleitor (ou mesmo o legislador) poder alguma vez dispor de modelos econômicos
que lhe permitam ponderar as respectivas consequências.
OziOE