UM LUGAR DESONESTO
VIOLENTO E RUIM PARA SE VIVER
REPRODUÇÃO (Fonte - Revista Isto é)
Se o
Brasil fosse uma pessoa, como ela seria? Alegre? Confiável? Distinta? Para uma parcela considerável da
população, nenhum desses atributos traduz a verdadeira alma brasileira. Se o Brasil fosse alguém de carne e osso, a
principal característica, aquela que se vê logo de cara, seria a desonestidade.
Um
estudo inédito realizado pela consultoria BrandAnalytics, empresa ligada à
Millward Brown Optimor, um dos maiores grupos de pesquisa do mundo, revela o
que os brasileiros pensam do País.

CORRUPÇÃO
VIOLÊNCIA DESCASO DOS POLÍTICOS
Os
brasileiros estão, afinal, desencantados. “O levantamento mostra um índice de
insatisfação surpreendente”
Para
explicar tanta desilusão, é só dar uma espiada no noticiário para conhecer a
incivilidade que permeia a vida de cada um de nós. Em São Paulo, alguém
esquarteja o corpo de um motorista de ônibus e espalha partes dele pela cidade.
No Rio, amarram um negro num poste e o espancam. Em Brasília, presos graúdos
passam o tempo vendo jogos de futebol em tevês de plasma, enquanto no resto do
País os cárceres são depósitos humanos degradantes. Em Belo Horizonte,
hospitais públicos recusam atendimento a uma criança à beira da morte. No
Nordeste, faltam professores. Em quase
todo o Brasil há escassez de água, e os governos, sejam eles de qualquer cor
partidária, atribuem a culpa sempre aos outros, sem jamais assumir
responsabilidades. Por onde se anda as pessoas reclamam do preço de tudo o
que se consome, do tomate na feira, do iPhone na loja da Apple, da passagem de
ônibus, do carro esportivo. A economia não anda. As obras da Copa não saíram
como o prometido. Os políticos querem o
poder apenas pelo poder. O trânsito é horrível. A violência bate à nossa porta.
Como ser feliz em um lugar assim? “Os resultados da pesquisa demonstram que
grande parte da população não confia nem no País nem no seu semelhante”
NÃO
ACREDITA NAS INSTITUIÇÕES
O
descrédito profundo nas instituições, quaisquer que sejam elas. Segundo o
levantamento, 81% dos entrevistados disseram que, para realizar seus sonhos,
dependem essencialmente de esforços individuais. Só 13% responderam que
precisam do suporte do governo.
O
INDIVIDUALISMO
As
pessoas cultuam o mérito pessoal (é o popular “cada um por si”), em vez do
trabalho coletivo. O individualismo exacerbado se reflete, na análise do
historiador, em organizações sociais e governos frágeis a pesquisa também
revela que o brasileiro não tem uma visão de País.

MANIFESTAÇÃO
DE JULHO 2013, VOZES DA CLASSE “C”
O grau
de insatisfação dos brasileiros começou a ser escancarado em julho do ano
passado, quando milhares de pessoas foram às ruas gritar contra as coisas
erradas do País. Mas é um equívoco dizer que tudo ficou ruim de repente. De
certo modo, o desencanto tem a ver com o próprio despertar dos brasileiros. É
inegável que o Brasil avançou em muitas áreas nos últimos anos. A miséria
diminuiu, a classe C teve acesso a bens como jamais tivera, a renda dos
trabalhadores aumentou. Mas será apenas isso que buscamos? Com o avanço da
economia, os brasileiros passaram a conhecer outras realidades. Viajaram, foram
morar fora e com a internet tiveram maior acesso à informação. Descobriram,
enfim, que há muitos mundos por aí – e realidades mais amigáveis que a nossa.
De
tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a
desanimar diante da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.
Se para
a corrupção não há punição, a sociedade acaba se acostumando com as
transgressões diárias das leis.
UM BRASIL
DE DESONESTOS E VIOLENTOS
As
características apontadas na pesquisa reforçam o estereótipo de que os
brasileiros são simpáticos e charmosos, mas podem te passar a perna.
Isso
realmente corresponde à realidade? Olhe para o lado e pense bem: a maioria das
pessoas de seu convívio é desonesta? Elas querem levar vantagem sobre você? Não
teria sido a impressão generalizada de desonestidade apontada na pesquisa um
reflexo da má imagem que temos de nossos governantes? Não seria resultado dos
índices chocantes de violência?
Segundo
a ONU, 11 das 30 cidades mais violentas do mundo são brasileiras. É
desnecessário dizer que, por mais que o Brasil tenha alimentado uma lamentável
escola do crime nos últimos anos, as pessoas de bem, claro, representam larga
maioria. O interessante da pesquisa é que os brasileiros julgam o Brasil um
país desonesto, mas avaliam a si mesmos de maneira positiva. “É natural
atribuir a si qualidades, mas achar que os outros não as têm”, diz Weltman, da
FGV. Se metade dos entrevistados acredita que a principal característica do
País é a desonestidade, 58% se dizem dignos de confiança. Ou seja, o meu
vizinho é mau, mas eu sou bacana. No fundo, o que a pesquisa revela é que o
Brasil tem um milhão de problemas para resolver e é só com a indignação – e o
desencanto – que dá para sonhar com um país verdadeiramente melhor.
#OziOE